Antes de mais nada, o sistema penal desperta curiosidade e gera inúmeras dúvidas, principalmente entre aqueles que não têm contato direto com o mundo jurídico. Muitas regras e princípios do direito criminal podem parecer contraditórios ou até surpreendentes para o público em geral. Além disso, situações que parecem óbvias do ponto de vista da opinião pública podem ter interpretações bem diferentes dentro da Justiça.
Sendo assim, criamos este artigo para mostrar mitos, verdades e curiosidades sobre o sistema penal. Dessa forma, revelando aspectos que muitos desconhecem.
1. Um réu pode confessar um crime e ainda assim ser absolvido?
Muitas pessoas acreditam que a confissão é a prova definitiva para condenar um réu. No entanto, no sistema penal brasileiro, a confissão isolada não basta para fundamentar uma condenação. O princípio do livre convencimento motivado exige que o juiz analise um conjunto de provas antes de decidir pela culpa de um acusado.
Por isso, mesmo que um réu confesse um crime, o juiz pode absolvê-lo se não existirem outras evidências concretas. Essa regra impede que condenem pessoas injustamente com base em confissões obtidas sob pressão, erro ou indução. Além disso, algumas pessoas confessam crimes que não cometeram para proteger terceiros ou por problemas psicológicos. A Justiça garante que ninguém seja punido sem provas concretas e obtidas de forma legal.
2. O silêncio pode ser a melhor defesa?
Muitos acreditam que o réu deve apresentar sua versão dos fatos, mas a lei não exige isso. O sistema penal assegura o direito ao silêncio, um dos princípios essenciais da defesa criminal. Esse direito, fundamentado no princípio nemo tenetur se detegere, impede que alguém seja forçado a produzir provas contra si mesmo.
Durante uma investigação ou audiência, o acusado pode escolher permanecer calado sem que isso indique culpa. Advogados orientam seus clientes a exercer esse direito, pois autoridades podem usar qualquer declaração contra eles no processo. Dessa forma, o silêncio se torna uma estratégia eficaz para evitar distorções no depoimento e interpretações equivocadas.
3. Ser pego em flagrante significa prisão automática?
Muitas pessoas acreditam que a prisão em flagrante resulta automaticamente em condenação, mas esse é um dos grandes mitos do sistema penal. Quando a polícia surpreende alguém cometendo um crime ou logo após a ação, pode efetuar a prisão. No entanto, a Justiça não mantém o acusado preso nem o condena sem um julgamento.
A legislação exige que um juiz analise a prisão em flagrante. Ele pode convertê-la em prisão preventiva, conceder liberdade provisória ou até anulá-la, caso identifique ilegalidades na abordagem policial. Se a prisão ocorreu sem justa causa ou com abuso de autoridade, a defesa pode solicitar sua anulação.
Mesmo quando a prisão é legal, a Justiça pode libertar o acusado mediante medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica ou a proibição de contato com testemunhas.
4. Provas ilegais podem anular um processo?
No direito penal, as provas contra um réu só têm validade se forem obtidas de maneira legal. Ou seja, caso contrário, a Justiça pode anulá-las e descartá-las do processo. O princípio da inadmissibilidade da prova ilícita protege os cidadãos contra abusos do Estado e garante um julgamento justo.
Algumas situações comuns que podem levar à anulação de provas incluem:
- Invasão de domicílio sem mandado judicial ou sem justificativa de urgência.
- Confissões obtidas sob tortura ou coação psicológica.
- Violação da cadeia de custódia da prova, o que compromete sua autenticidade.
Se a Justiça considerar a principal evidência contra o acusado ilegal, ela pode comprometer e até anular o processo. Isso reforça a importância de um julgamento baseado em provas obtidas dentro dos parâmetros legais.
5. O Tribunal do Júri não julga todos os homicídios?
Muitas pessoas pensam que o Tribunal do Júri julga qualquer homicídio, mas isso não acontece. Esse tribunal analisa apenas crimes dolosos contra a vida, nos quais o autor agiu com intenção de matar.
Já nos homicídios culposos, em que não há intenção de matar, um juiz de direito conduz o julgamento. Da mesma forma, latrocínios (roubos seguidos de morte) e homicídios ligados a organizações criminosas vão para varas criminais comuns, pois, nesses casos, a morte serve como meio para outro crime, e não como objetivo principal do autor.
6. Como Funciona o Tribunal do Júri no Brasil?
O Tribunal do Júri é um dos pilares da Justiça Criminal brasileira e tem a função de julgar crimes dolosos contra a vida, como homicídio, feminicídio, infanticídio, aborto ilegal e participação em suicídio. Portanto, no Tribunal do Júri, sete cidadãos comuns decidem a sentença, diferentemente de outros julgamentos em que o juiz dá a decisão final.
O julgamento no Tribunal do Júri segue algumas etapas:
- Escolha dos jurados: São selecionados 25 cidadãos, dos quais sete compõem o conselho de sentença.
- Debates entre defesa e acusação: O Ministério Público apresenta a acusação, enquanto a defesa contesta as provas e argumentos.
- Votação dos jurados: Os jurados respondem às perguntas por meio de votos secretos. Assim, a maioria decide se condena ou absolve o réu.
- Definição da pena: Se o juiz considera o réu culpado, ele determina a pena conforme as diretrizes do Código Penal.
Além disso, o Tribunal do Júri não julga crimes como latrocínio (roubo seguido de morte) e homicídios culposos, pois eles envolvem outras motivações que não se enquadram em sua competência.
7. Qual o Papel do Advogado na Defesa Criminal?
No sistema penal brasileiro, a atuação do advogado criminalista é fundamental para garantir que os direitos do acusado sejam respeitados. Portanto, diferente do que muitos imaginam, todo cidadão tem direito a uma defesa técnica, independentemente da gravidade do crime.
O advogado criminal pode atuar em diversas frentes, como:
- Garantia do direito ao contraditório e à ampla defesa;
- Análise da legalidade das provas apresentadas;
- Pedido de habeas corpus para soltura do acusado quando há ilegalidades na prisão;
- Acompanhamento de interrogatórios para evitar abusos e constrangimentos;
- Negociação de acordos de colaboração premiada, quando aplicável.
8. Como Fake News Podem Afetar Processos Criminais?
A disseminação de informações falsas é um problema grave na sociedade atual, e no contexto do sistema penal, pode comprometer investigações e prejudicar tanto acusados quanto vítimas. Portanto, notícias falsas podem gerar linchamentos virtuais, influenciar a opinião pública e até mesmo pressionar juízes e promotores.
Casos emblemáticos mostram que informações erradas podem levar à condenação injusta de pessoas inocentes ou à absolvição de culpados por falhas no processo. Por isso, é fundamental:
- Sempre verificar a fonte da informação antes de compartilhar.
- Não tomar decisões com base em rumores ou manchetes sensacionalistas.
- Entender que processos criminais seguem um rito formal e técnico, não a opinião popular.
A Justiça Brasileira vem combatendo a influência de fake news por meio de punições mais rígidas para crimes contra a honra e de regulamentações sobre disseminação de desinformação em redes sociais.
9. Como Funciona a Cadeia de Custódia da Prova?
A cadeia de custódia é o processo que garante a integridade das provas usadas em investigações criminais. Atualmente, no Brasil, a Lei nº 13.964/2019, conhecida como Pacote Anticrime, traz regras mais rígidas para a preservação das provas. Bem como, evitou abusos que poderiam comprometer a validade de um processo.
O caminho da prova deve seguir etapas bem definidas:
- Coleta: A prova é identificada e recolhida de forma adequada.
- Acondicionamento: Deve ser armazenada de maneira segura, sem risco de contaminação.
- Transporte: O material deve ser entregue ao setor responsável sem interferências.
- Exame pericial: A prova é analisada por peritos oficiais para garantir sua autenticidade.
Se houver falhas na cadeia de custódia, como extravio, manipulação indevida ou falta de identificação adequada, a defesa pode contestar a validade da prova e até mesmo solicitar sua anulação.
10. O Que Acontece Quando um Processo é Anulado?
Quando um processo criminal é anulado, ele perde validade jurídica, e as decisões tomadas nele deixam de ter efeito. Sendo assim, a anulação pode ocorrer por diversos motivos, como:
- Provas obtidas de forma ilícita;
- Erros processuais que comprometam a ampla defesa;
- Violação dos direitos fundamentais do réu.
Dependendo da gravidade do erro, a anulação pode levar à reabertura do caso, obrigando o Ministério Público a oferecer uma nova denúncia, ou até mesmo ao arquivamento definitivo do processo. Ou seja, quando um réu já condenado tem seu processo anulado, ele pode ser solto imediatamente, caso não existam outros motivos para sua prisão.
A anulação de processos reforça o compromisso da Justiça com o devido processo legal. Dessa forma, impedindo que erros prejudiquem a busca pela verdade real dos fatos.
11. Prisões e Penas: Mitos e Verdades no Sistema Penal
O sistema penal brasileiro é frequentemente alvo de equívocos e desinformações. Aqui estão alguns mitos comuns e suas explicações reais:
Mito 1: “Quem é preso em flagrante fica preso até o julgamento.”
➡ Verdade: A prisão em flagrante pode ser relaxada se houver ilegalidade na abordagem, e o juiz pode conceder liberdade provisória.
Mito 2: “Todo condenado por crime grave fica preso até o fim da pena.”
➡ Verdade: O Brasil adota o sistema de progressão de regime, permitindo que condenados passem para regimes mais brandos conforme o cumprimento da pena e o bom comportamento.
Mito 3: “Crimes hediondos não têm direito a benefícios penais.”
➡ Verdade: Crimes hediondos possuem regras mais rígidas, mas ainda podem ter progressão de pena, desde que cumpridos os requisitos legais.
Esses mitos demonstram a complexidade do sistema penal, bem como, a importância de buscar informações confiáveis antes de formar opiniões sobre o funcionamento da Justiça Criminal.
Concluindo, compreender o Direito Penal é fundamental.
Por fim, entende-se que Direito Penal é cheio de nuances que muitas vezes passam despercebidas pelo público em geral. Ou seja, questões como a confissão isolada não ser suficiente para condenação, o direito ao silêncio, a ilegalidade de provas, e a não obrigatoriedade de todos os homicídios irem ao Tribunal do Júri demonstram que a Justiça Criminal tem regras complexas que garantem um julgamento justo e equilibrado.
Entender essas peculiaridades é essencial não apenas para advogados, mas também para qualquer pessoa que deseje compreender melhor o funcionamento do sistema penal. Portanto, o conhecimento desses detalhes pode ser a diferença entre um julgamento correto e uma condenação injusta.
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